O Congresso Epistemologias do Sul aconteceu entre 7 e 10 de novembro nos campi da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). O evento foi dedicado a debater diversas abordagens e temáticas concernentes à perspectiva descolonial.
A representante do coletivo Sementeia, Márcia Tait, apresentou o artigo produzido pelo Coletivo “Sementeia: plantado sonhos, semeando sentidos e articulando resistências no campo e cidade” no Grupo de Trabalho “Linguagem da (r)existência: lutas sociais e produção compartilhada do conhecimento no audiovisual”, coordenado por Sônia Aparecida Fardin (UNICAMP) e Juliana Maria de Siqueira (ULHT). O artigo e a exposição apresentaram o processo de concepção da plataforma e suas ações de articulação e formação que ocorrem desde 2013. Também discutiu a concepção de processo crioulo de produção simbólica desenvolvida no âmbito do coletivo e sistematizada pelo pesquisador Marcelo Vaz Pupo.
O nome epistemologias do Sul faz referência ao movimento e conjunto de teorias críticas pela expansão da visão sobre conhecimento e das ciências e crítica à violenta hegemonia que se tenta estabelecer por meio de epistemologias “epistemicídas” de viés eurocêntrico, antropocêntrico e androcêntrico. Nos termos do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o termo epistemologia do Sul, assim como descolonial ou pós-colonial se refere menos a um momento histórico da colonização ou a geografia e mais a uma ação estratégica de produção de legitimidade e visibilidade das práticas cognitivas de classes, povos e grupos sociais que têm sido subalternizados pelo colonialismo e pelo capitalismo global. Para o autor, não haverá justiça social global sem justiça cognitiva global.
No GT as possibilidades de descolonização do universo simbólico por meio do audiovisual estiveram presentes em temas como a visibilidade de artistas da cultura popular e possibilidade de um “multiculturalismo revolucionário” e uma perspectiva revolucionária para a folkcomunicação, no trabalho apresentado por Ana Ribas (Universidade Aberta de Portugal). A produção de audiovisual na periferia, intersecções com o movimento RAP e significações e resistências no espaço público a partir deste local, no trabalho sobre o coletivo de cinema Ceicine de Brasília, apresentado por Lucas Henrique de Souza (Unila). E também no trabalho apresentado por Túlio Henrique Queiroz da Silva (UFG) sobre o conflitos pela terra em Goiás envolvendo a etnia Taego Ãwa a partir de documentário produzido sobre esta etnia utilizando materiais de acervo da década de 70 e releitura atual.
Entre vários temas relevantes abordados nas conferências de abertura, por José Guadalupe Gandarilla Salgado da Universidade Nacional do México e de encerramento, por de Glauco Bruce Rodrigues e Tatiane Tramontani, ambos da Universidade Federal Fluminense, destacaram-se a própria perspectiva descolonial e a possibilidade de uma universidade transmoderna na América Latina e de uma concepção descolonial para a geografia baseada na territorialidade e nos conflitos.
Também foi trazida a discussão sobre a necessidade e desafio para concepção e lançamento de revistas científicas adequadas a propostas descolonial, que necessariamente sejam críticas aos critérios internacionais definidos para publicação e classificação de periódicos vigente atualmente. Nesta direção uma ação prática está em andamento: foi lançada a revista “Epistemologias do Sul: Pensamento Social e Político em/para/desde América Latina, Caribe, África e Ásia”, que já está com chamada aberta para artigos.