As vozes contra Belo Monte em três documentários

Parceiro: Marilia Gobbo24/11/2017

Os documentários tratam das questões sociais, políticas, culturais e econômicas que envolvem a construção e funcionamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na região do rio Xingu (no Pará). Em ordem de ocorrência de eventos, o primeiro filme é “À margem do Xingu: vozes não consideradas”, de 2011. Ele foi produzido quando o projeto escrito de Belo Monte ainda estava em andamento, e aborda a vida cotidiana dos moradores das cidades ribeirinhas e aldeias indígenas ao longo do rio Xingu, além das consequências que a construção da usina teria para o meio ambiente, cultura e vida locais.

Já “Belo Monte: Anúncio de guerra” é o segundo documentário, do período em que o projeto de construção da barragem avançara um pouco, embora com entraves de ordem econômica e política. É uma produção independente de 2012 com financiamento voluntário feito pelo público receptor. A ideia central do filme é mostrar as questões e práticas de resistência indígenas das etnias das regiões afetadas pelo alagamento de uma extensa área de floresta causado pela construção do reservatório de água da usina hidrelétrica. E por último, há a terceira película, “Belo Monte: depois da inundação”, de 2016. Filmado no pós-implantação da usina de Belo Monte, a temática deste são os efeitos sociais, econômicos e culturais para as antigas populações ribeirinhas do rio Xingu.

É interessante notar como em todos os três longas-metragens há muito presente a problematização do modo com que a proposta de represa foi feita e negociada pelos agentes econômicos, governistas e os ribeirinhos do rio alterado, desde as plantas da estrutura física da barragem até os trâmites judiciais após a construção. Uma ênfase dada nas reflexões dos documentários são aquelas referentes aos povos indígenas. Suas vivências, relações com as terras de seus antepassados, culturas, saberes práticos (como sobre as plantas da floresta amazônica da região), hábitos, modos de vida, suas identidades e também suas formas de resistência ao avanço dos setores econômicos e políticos – governamentais e particulares – em suas terras, além de outros elementos, são amplamente explorados e desenvolvidos ao longo de uma trama complexa que reúne diversas críticas à Belo Monte.

Neste ponto, é dada especial atenção não somente aos detalhes acima descritos, mas também à falta de visibilidade para os problemas da região e para os habitantes desta. Diversas vezes nos longas em questão, há a acusação de que os chamados “afetados pela barragem” – assim como os indígenas, que do mesmo modo que outros grupos populacionais, não entram nesta categoria – não foram considerados nem durante as negociações do projeto de construção, nem após, o que teria agravado problemas anteriormente já existentes, como a violência nas cidades e nas terras indígenas, o alto nível de pobreza da população local, os modos de sobrevivência baseados na pesca, a falta de saneamento básico, as más condições de vida e as moradias, entre outros detalhes abordados.

As problemáticas ambientais e de sobrevivência das populações ribeirinhas são examinadas à luz da argumentação de que há um silenciamento por parte de setores da grande mídia e de interessados na construção da usina de Belo Monte para com os afetados pela mesma. Assim, os filmes possuem também a intenção de chamar a atenção para uma destruição ambiental, consequência do empreendimento financeiro de grande porte e para a ameaça que também é social, ao acabar com os meios de vida tradicionais indígenas e dos ribeirinhos, como uma forma de busca de apoio social externo às comunidades e como uma resistência aos acontecimentos tratados nesses documentários.

Assim, ficam diversas reflexões sobre as culturas locais, o papel de cada agente social, das formas de resistência no mundo moderno, dos modos de vida, e da sociedade brasileira atual como um todo.

À margem do Xingu: Vozes não consideradas

Ano: 2011
Direção: Damià Puig – Assistente de Direção e Produção Executiva: Janaína Welle
Duração: 90min
Produção: Rafael Salazar
País: Brasil
Teaser:

Belo Monte: Anúncio de uma guerra

Ano: 2012
Duração: 1h44min
Direção: André D’Elia
Produção Executiva: André D’Elia e Bia Vilela
Empresa produtora: Cinedelia
Link filme:

Belo Monte: Depois da inundação

Ano: 2016
Dirigido por: Todd Southgate
Duração: 54min
Produção: International Rivers, Amazon Watch & Todd Southgate
Narração: Marcos Palmeira
Link do filme: