“O lixo de São Paulo é o mais rico do mundo”
Filmado em preto e branco e mudo, o curta-metragem Restos (1975) registra as condições de vida de mais de 100 pessoas que viviam de catar lixo no lixão da Rodovia Raposo Tavares, em São Paulo. Coletando restos de comida e materiais como papéis, metais e latas que vendiam como sucata, com uma renda média de 10 cruzeiros por dia.
Entretanto, o lixão ia acabar: em seu lugar, seria feito um aterro sanitário, e os catadores foram proibidos de catar lixo. Eles resistem como podem, mas sofrem repressão policial. Por fim, não havia mais lixão da Raposo Tavares, mas ainda haviam os catadores, agora sem uma forma de garantir a sua subsistência.
Os catadores não são tratados como cidadãos. Não há interesse em integrá-los à sociedade, de modo que não dependessem do lixão; para eles, é garantida apenas a opressão estatal, e com isso o problema só aumenta em magnitude – cria-se um circulo vicioso entre violência e exclusão social.
Em seu blog, o diretor João Batista de Andrade comenta o filme e o contexto de ditadura em que foi produzido:
“meu FILME “RESTOS”, branco e preto, mudo, 10 minutos, proibido em 1975.
Quem quiser ver, apesar da degradação da imagem. Foi o último filme que mostrei e discuti com meu amigo Vlado (Vladmir Herzog) em 1975, uns dois meses antes de seu assassinato no DOI-CODI. Discuti com ele algumas cenas, não cedi, mas guardo esse momento com muita emoção. O filme foi apreendido e proibido pela censura da ditadura militar ainda em 1975.”
Assista ao curta-metragem na integra:
Ficha Técnica
Duração: 10 minutos e 30 segundos
Diretor: João Batista de Andrade
Produtor: Wagner Carvalho
Ano: 1975