Greves, manifestações e o sindicato dos professores: entrevista com o prof. Mário Mariano Cardoso

Parceiro: Olhares do Campo23/11/2017

 

 

Dando continuidade à publicação do dossiê Embates na Publicação Pública em 2016, segue abaixo o quarto texto do material. Produzido por graduandos da Licenciatura em Educação do Campo – UFVJM, consiste em uma entrevista com o prof. Mário Mariano Cardoso, vice-presidente do sindicato dos professores da UFVJM na ocasião. O material contém informações sobre os procedimentos de uma greve, o que são atividades essenciais em um contexto de greve, além de uma reflexão sobre aspectos da conjuntura de 2016.

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Greves, manifestações e o sindicato dos professores: entrevista com o prof. Mário Mariano Cardoso

Amanda Oliveira Peçanha, Angela Silva Peçanha, Jucélia Viana Barbosa, Keyliene Pereira Martins e Nicarla Serafim de Souza.

 

 

No dia 28 de janeiro de 2017, fizemos uma entrevista com Mário Mariano Cardoso, Vice-Presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (ADUFVJM) e professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM). Junto a outros assuntos, tratamos das lutas contra os cortes de recursos para a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e sobre demandas ainda pendentes para a universidade, tais como: vagas para docentes, dinheiro para as construções de moradia estudantil, laboratórios, mais prédios, restaurante universitário, dentre outras promessas realizadas pelo Ministério da Educação (MEC).

Também ouvimos o relato do professor acerca da manifestação – ocorrida no dia 29 de novembro de 2016 em Brasília – contra a PEC 55, a Reforma do Ensino Médio e o Projeto Escola Sem Partido. O movimento de greve geral foi comandado pelo Comando Nacional de Greve Estudantil (CNGE), instalado em Brasília. O mote da luta foi o combate a todos os retrocessos impostos pelo novo governo. Mais de 300 ônibus foram até Brasília com integrantes de movimentos estudantil, sindical e sociais de todo o país. Um ponto importante foi a organização da classe trabalhadora em geral, que ocupou Brasília e demonstrou a força de variadas categorias, dentre as quais, professores. Esse dia de greve geral teve grande alcance nacional, o que mostrou a capacidade dos movimentos sociais se unirem para fazerem frente aos ataques do governo Temer.

A partir desse contexto, dialogamos com o então vice-presidente do Sindicato dos Docentes da UFVJM (ADUFVJM), Mário Mariano Cardoso. Seguem abaixo os principais pontos dessa entrevista:

Quais as maiores dificuldades enfrentadas na greve docente da UFVJM ocorrida em 2016?

Podemos apontar como uma das dificuldades a falta de elementos objetivos para impedir a ação truculenta do governo contra as ações que envolveram a greve de 2016. Mesmo que a greve não seja algo novo na organização da classe trabalhadora, por ser um instrumento de luta coletiva, há sempre o desafio de superarmos um certo individualismo que habita a vida cotidiana, e em especial, o contexto de atuação de professores do Ensino Superior. A greve levada adiante pelos professores da UFVJM estava articulada a uma greve nacional dos docentes nas Universidades. Sendo assim, articular a luta social num território do tamanho do Brasil também traz dificuldades.

Foto tirada em frente o Ministro da Educação (MEC), em Brasília, no dia 29/11/2016. Cedida por Mário Mariano Cardoso.

Que procedimentos prévios devem ser adotados para realização de uma greve como essa?

Na UFVJM, a diretoria da ADUFVJM organiza assembleias periódicas com o objetivo de debater os problemas da categoria em âmbito local e promover a reflexão sobre as questões mais gerais dos docentes das universidades. A greve, em parte, nasce dessas discussões e também a partir do momento em que os docentes a compreendem como um instrumento efetivo para defesa de seus interesses e necessidades. Assim que as assembleias da ADUFVJM passam pautar a possibilidade de construção de uma greve, elas são ampliadas. Isso porque, segundo o regimento de nosso sindicato, tanto professores sindicalizados como não sindicalizados podem votar sobre essa pauta. Há algumas normas jurídicas que trazem condicionantes para o direito de greve. É necessário, por exemplo, informar com antecedência o dia de sua deflagração. Do ponto de vista político, entendo que a greve deve ter como procedimento prévio um profundo debate da categoria, avaliando a conjuntura e reunindo forças para que o movimento paredista seja efetivo na organização e no avanço da classe trabalhadora.

Houve alguma conquista resultante da greve docente de 2016?

Como conquista da greve de 2016 podemos citar o aumento da percepção da população em geral de que as medidas do ilegítimo governo Temer são prejudiciais à maioria das pessoas. Algumas pesquisas apontaram que mais de 80% da população era contra a aprovação da PEC 55 (nomeada pelo Governo como PEC dos Tetos dos Gastos e, por nós, como PEC do Fim do Mundo). Entendemos que, apesar do bloqueio de informações promovido pelas empresas da grade mídia, nossa greve possibilitou que os professores da UFVJM em Diamantina, por exemplo, dialogassem diretamente com a população, explicando os efeitos deletérios de se congelar gastos sociais com Educação e Saúde por 20 anos, conforme proposta da PEC.

Qual seu posicionamento em relação à greve? O que o motivou a participar?

A greve é instrumento legítimo e histórico dos trabalhadores contra os ataques que sofrem dos patrões. O que me motivou foi a compreensão de que deveríamos fazer algo contra os ataques desse governo.

Quais são as atividades essenciais a serem supridas durante a greve?

As atividades essenciais são definidas por um comitê de ética, formado no âmbito da assembleia de docentes. Além do processo de negociação com a reitoria, esse comitê leva em conta a legislação, que indica como essenciais, por exemplo, atividades cuja paralisação leva risco a vida humana.

Há um controle das atividades essenciais que foram atendidas?

O controle das atividades essenciais foi executado pela assembleia, onde qualquer pessoa poderia colocar em debate questões relativas a possíveis problemas com as atividades essenciais.

Houve articulação com setores de outros municípios que também deflagram greve?

Sim, por volta de 70 sessões sindicais de professores de universidades do Brasil inteiro (federais e estaduais) construíram a greve nacional do ANDES-SN.

Há algum material sobre greve disponível para orientar a população?

A greve de 2016 produziu inúmeros materiais. Vários ainda estão disponíveis nas redes sociais, bem como no site do ANDES-SN: < http://www.andes.org.br>.