A greve da UFVJM sob os olhos do comércio local de Diamantina

Parceiro: Olhares do Campo08/12/2017

Dando continuidade à publicação do dossiê Embates na Educação Pública em 2016, segue abaixo o antepenúltimo texto do material. Produzido por graduandos da Licenciatura em Educação do Campo – UFVJM, consiste em uma reflexão sobre possíveis impactos da greve docente de 2016 da UFVJM na economia do município.

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A greve da UFVJM sob os olhos do comércio local de Diamantina

Maria Natiele, Sabrina Lemes, Sandra Silva, Talita Tamires, Yasmin Barros

Disponível em: https://www.google.com.br. Acesso em 31/01/2017.

Diamantina é um polo econômico altamente relevante de sua região, sendo sede da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), fundada por Juscelino Kubitschek. Atualmente sua população se tornou uma mescla de cidadãos diamantinenses, servidores públicos e estudantes universitários de todos os estados do Brasil. A cidade é muito conhecida pelas belezas naturais e históricas. Localiza-se em Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, também conhecido por alguns como “vale da miséria”. Vale ressaltar, no entanto, que a situação econômica e social local que deu esse título à região tem mudado. Em particular, a instituição, desde sua fundação, tem contribuído para provocar mudanças sociais, econômicas e culturais em seu entorno.

Para alguns Diamantinenses, ser sede da UFVJM é um fator muito positivo, porém outras pessoas não veem isso com os mesmos olhos. De todo modo, uma instituição desse porte traz muito dinheiro para a cidade, diretos e indiretos. Com os novos cursos, por exemplo, vêm novos estudantes, que têm gastos estudantis e pessoais com: alimentação, hospedagem, roupa, etc. É inegável, portanto, o papel dos estudantes no fortalecimento e na movimentação do comércio. E, nessa lógica, quem lucra é a economia da cidade. Nesse sentido, vale observar o que afirma Marcos Lobato (2016), professor da universidade:

É a UFVJM […] que provocou boa fração do crescimento do setor de serviços (57,4% no período 2005-2009) e nas movimentações financeiras na cidade (22,14% a. a nas operações de crédito; 14,03% a. a. nos depósitos de pessoas físicas; e 8,24%a. a em financiamentos imobiliários). Foi a universidade que atraiu para a cidade muitos jovens (na faixa etária de 20 a 29 anos, entre os anos 2000 e 2010, registrou-se crescimento de 20%, contra apenas 3% de aumento da população total). Enfim, é graças à UFVJM que, desde 2005, Diamantina ainda se mantém como a principal economia do Vale do Jequitinhonha. E como o polo educacional e cultural mais destacado do nordeste mineiro. (LOBATO 2016).

Em geral, Lobato traz a relevância da universidade como argumento favorável a uma postura de oposição da cidade e de seus moradores em relação “às medidas do governo Temer em nome do ajuste fiscal”. Mas essa não é uma visão unânime. No editorial de 22 de outubro de 2016, intitulado “A preocupante ocupação e o descabido fechamento do Campus II da UFVJM”, o jornal Voz de Diamantina relata a insatisfação com a greve, afirmando que esta não traria ganho algum para a cidade.

Para compreender melhor o modo como os moradores locais, em especial os trabalhadores do comércio, enxergam o papel da UFVJM na economia local e, por consequência, o impacto de uma greve na cidade, optamos por realizar entrevistas semiestruturadas com diversos sujeitos na região central da cidade. Em geral, os entrevistados pela nossa equipe não quiseram se identificar. As análises que se seguem, então, trazem alguns dados a respeito dessas entrevistas e diálogos, embora, muitas vezes, não seja possível a identificação dos sujeitos envolvidos. Essa proposta é análoga a um trabalho realizado pelo blog ‘Foca no Ponto’, administrado por estudantes de comunicação social da Universidade Federal de São João del-Rey. Em reportagem publicada 9 de outubro de 2012, intitulada “O Impacto da greve na economia local”, o blog analisa a situação de São João del-Rei em um período de greve da universidade federal local, apontando que o setor estudantil era uma parte responsável por movimentar a economia da cidade universitária.

Ao iniciarmos as entrevistas sobre os impactos da greve no comércio, enfrentamos diversas dificuldades. Muitos comerciantes não quiseram nos atender e outros não demonstraram interesse pelo assunto. O que se refletiu diante desse fato, é que os principais beneficiados pela existência da UFVJM em Diamantina nem sempre procuravam saber o verdadeiro motivo do acontecimento da greve e, além disso, costumavam encarar o fato como negativo. Em nosso olhar, isso se deve, em partes, pela falta de informação a respeito do assunto. Em diálogo com muitos comerciantes, um lado positivo da greve só passou a ser considerado quando se colocou em contraposição um cenário de fechamento da universidade ou da diminuição de investimentos na mesma. Ainda assim, a tendência do comércio foi a de a não reconhecer a greve como algo legítimo. Houve alegações, por exemplo, de que a maioria dos grevistas não sabem os motivos da paralisação nem chegaram a ler sobre a PEC e a MP.

Os discursos acima demonstram que os sujeitos atuantes no comércio local não traziam a leitura de que as atuais medidas do governo podem trazer impactos negativos para a economia da cidade. Porém, ao colocarmos em discussão algumas informações sobre o assunto, muitos demonstravam ponderar o outro lado. Além disso, as falas não foram unânimes em termos do impacto sentido no período de greve. Para o gerente de uma loja, por exemplo, não houve “muitas perdas e nem quedas nas vendas, pois os moradores e turistas não deixaram de fazer compras”. Já para o vendedor de outra, “teve queda sim. Na verdade, não podemos ficar expondo nem revelando certas informações para não expormos a loja, é complicado. A greve abalou muito todo comércio da cidade e, mesmo que não falem, o baque foi muito grande”.

A partir de nossa sondagem e da sistematização das informações obtidas, pudemos perceber que os impactos da greve foram notados no comércio imobiliário, alimentício e de transporte público, áreas do comércio mais utilizadas pelos estudantes. Em alguns supermercados, alegou-se haver queda de vendas em aproximadamente 25% dos alimentos instantâneos. Para trabalhadores das imobiliárias locais e pessoas autônomas do setor de aluguel de imóveis, a paralisação soou como negativa pelo prejuízo relacionado à perda de seus inquilinos.

Entendemos que um dos motivos que pressionou o fim da greve foi justamente a insatisfação e contraposição dos comerciantes em relação a ela. Entende-se que para manter um movimento como este é preciso apoio, paciência, coletividade e objetivo. Diante disso, é significativo considerar que, ainda que a greve faça-se negativa aos olhos do comércio, a paralisação da universidade foi uma forma de intervir pela economia mesmo que de forma indireta. Esse posicionamento é defendido pelo professor Marcos Lobato em seu texto. Nesse contexto, o acadêmico lembra que foi a UFVJM que ajudou a superar o momento econômico que se seguiu após o enfraquecimento do garimpo de diamantes na cidade.

(…) Progressivamente, Diamantina virou uma cidade de servidores públicos. Foi graças a isso que a cidade resistiu, sem maiores traumas, ao fim do secular garimpo de diamantes. Hoje, a vida econômica, social e cultural de Diamantina fica quase inteiramente à mercê do funcionamento dos órgãos estaduais e federais aqui sediados.

Em nossa leitura, os participantes da greve lutaram por objetivos abrangentes, por direitos que, se mantidos, assegurariam o bem-estar de todos os cidadãos. A forma de oposição encontrada nas falas de comerciantes locais trouxe a impressão do desejo de conquistas sociais e mesmo de uma situação econômica local favorável, sem no entanto valorizar uma luta organizada para isso. Nesse sentido, é importante retomar a carta de Marcos Lobato, mostrando como a PEC atinge o futuro de Diamantina, com os cortes na educação e na saúde.

É de suma importância que todas as áreas envolvidas de forma direta ou indireta saibam corretamente os motivos internos da greve. Quando isso não acontece, podemos nos deparar com uma realidade onde pessoas com interesses comuns travam batalhas entre si e deixam que a luta principal perca o foco. Em ocasiões como essa seria muito benéfico, portanto, pensar em novas estratégias para conscientizar os comerciantes e toda a população local por meio de cartazes, redes sociais, panfletos e palestras. Isso, com o intuito de compreenderem corretamente os motivos internos da greve e desconstruírem uma imagem estereotipada de que universitários, principalmente grevistas, são baderneiros.

Disponível em: https://www.google.com.br. Acesso em 31/01/2017.

Referencias:

MARTINS, M, L. Diamantina assistirá calada a destruição da saúde pública. UFVJM. Diamantina, 24 de outubro de 2016.

OLIVEIRA, P, R. Impactos no comércio alimentício. Entrevista concedida a Talita Tamires. Em 29 /01/2017.

VARGINHA, C.; MACHADO, L. O impacto da greve na economia local. São João Del Rei; 9 de outubro de 2012. Disponível em: http//http://focanoponto.blogspot.com.br/2012/10/o-impacto-da-greve-na-economia-local.html. Acesso em: 30/01/2017.