Documentário Marielle Vive 2019

Marielle Vive! Um lugar de construção de humanidades

Tentaram nos enterrar, mas não sabiam que éramos sementes

A proposta inicial para o documentário sobre acampamento Marielle Vive! era enfocar a questão das doações, a partir dos depoimentos de quem doa. A questão era mostrar não apenas a ação da sociedade, mas também quais eram as motivações.

O acampamento, do Movimento Sem Terra (MST), está localizado no município de Valinhos (SP) e foi formado há pouco mais de um ano. “Foi no primeiro raiar do sol no dia 14 de abril de 2018, um mês após o assassinato de Marielle e Anderson, que mais de 700 famílias da região de Campinas (SP) romperam as cercas da Fazenda Eldorado Empreendimento Imobiliários Ltda., fazendo frente a especulação imobiliária e a improdutividade da terra” (MST, 2019).

Atualmente, cerca de mil famílias vivem no local e transformam, a cada dia, a área que até então era improdutiva.


Estivemos pela primeira vez no Marielle Vive! no dia 15 de maio, que era uma quarta-feira, dia em que teríamos aula, mas não tivemos devido às manifestações em defesa da Educação que ocorreram por todo o País. Participamos do Ato pela manhã, no Centro de Campinas, e depois fomos até o acampamento.

Nosso primeiro contato foi como uma coordenadora geral que nos contou sobre a estrutura e organização do local, projetos, embates e dificuldades, como o difícil acesso à água e os entraves ao acesso a direitos básicos, como escola e atendimento no serviço público municipal de saúde. Caminhamos um pouco pelo local, conhecemos o funcionamento de alguns setores-chave, como Secretaria, Saúde, Cozinha e Almoxarifado. Naquele dia, estavam completando um ano, um mês e um dia de Marielle Vive!

Voltamos ao acampamento mais duas vezes e tivemos a oportunidade de conversar com outro coordenador geral e com várias pessoas que ali vivem. Almoçamos na cozinha comunitária (uma delícia!) e nos deparamos com a diversidade da produção de hortas que todos @s acampad@s cultivam em volta de seus barracos (mesmo com toda a dificuldade de acesso à água e que foi parcialmente amenizada com o projeto de “subir a água” da mina, graças à implantação de um sistema com uma bomba, como mostramos no vídeo que produzimos). Também pudemos acompanhar parte dos preparativos para a festa junina que mobilizou a tod@s, a dificuldade de armazenar água, o resultado da oficina de bioconstrução com bambu, entre outros. Ações transformadoras.

Desde o início contamos com a importante e gentil parceria do Carlos Filipe Tavares, que nos apresentou a tod@s no acampamento, acompanhou e registrou todas as visitas com sua Handycam, filmando tudo (inclusive a gente almoçando!).

Apesar de termos uma ideia inicial para o documentário, não era algo fechado. Queríamos ouvir as demandas e o que seria interessante, para o acampamento, que fosse enfocado. Desde o início colocamos essa intenção e os caminhos apresentados foram diversos. Aliado a isso, a cada visita, novas descobertas para o grupo (era nosso primeiro contato com um acampamento do Movimento). A cada contato nos deparamos com novidades que estavam acontecendo no acampamento, novas histórias de vida. Para cada um de nós, o leque de temas possíveis foi se ampliando.

Reuniões presenciais do grupo para discutir estrutura do roteiro, inclusive com professores sobre o andamento do trabalho, foram fundamentais para conseguirmos definir um fio condutor. E o tema com o qual passamos a trabalhar para a construção do nosso vídeo foi o que o acampamento Marielle Vive! representa e sua importância em termos de organização social e valorização do sentimento de coletivo, bem como de recuperação do meio ambiente e do fortalecimento das pessoas como indivíduos  políticos e transformadores de realidades. Como nos falou uma das coordenadoras do acampamento, mesmo com todas as dificuldades, “que aqui seja um lugar de construção de humanidades”.

A experiência de conhecer o acampamento Marielle Vive! foi (é) incrível e a oportunidade, por meio deste curso, de vivenciar o desenvolvimento de um projeto audiovisual, extremamente desafiadora. Desde a busca de um tema, a pesquisa, planejamento de entrevistas e de captação de imagens, até tentar “rabiscar” um projeto, fazer decupagens, selecionar o que entra e o que sai (essa parte foi bem dolorida) e a questão técnica mesmo, como observar luz e ruídos do ambiente e um início de familiaridade com programas de edição.

O balanço, sem dúvida alguma, é positivo. Tivemos, claro, as dificuldades de um trabalho em grupo, mas também a possibilidade de ouvir, de aprender com o outro e de desenvolver o desapego. Sem falar na alegria de ver as ideias tomando forma e a história contada nessa associação de imagens com sons, falas e silêncios.

As ideias que cada um teve e direcionamento que cada um de nós queria dar, que acabaram não sendo incorporados neste projeto, não estão descartados. São sementes para novos projetos que nos sentimos motivados a desenvolver no Marielle Vive!

Agradecemos à equipe do curso pela oportunidade de desenvolver este trabalho, a tod@s @s professor@s pelas aulas; à Kellen pelas orientações e ao Diego pela receptividade no Laboratório Terra Mãe e ensinamentos para ferramenta de edição.

Um especial agradecimento ao Carlos, que abraçou projeto e grupo.

À coordenação geral do acampamento e a tod@s acampad@s pelo acolhimento e horas dedicadas a nos apresentar o acampamento.

Nosso muito obrigado!

Diógenes Braga   Juliana Ribeiro   Telma Bodstein   Véronique Hourcade


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Curso Meio Ambiente, Questões Agrárias e Multimeios. Campinas, 2019.