FAZENDA ROSEIRA: Cultura e resistência

Parceiro: Sementeia28/03/2018

Esta postagem faz parte do produto final da disciplina de história econômica, política e social do Brasil pertencente ao Curso de Bacharelado e Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) ministrado pela professora Dra. Márcia Tait que resultou em um audiovisual produzido e editado pelas as discentes Aline Oliveira, Marisol Emma Frankland Sawaya e Vanessa Juliana da Silva.

Durante o decorrer dessa disciplina, nos chamou a atenção a exibição da nona aula que teve como tema “População negra afrodescendentes no Brasil: Questões culturais e resistência na atualidade (quilombos), sendo ministrada no dia 19 de outubro de 2017 pela convidada Paula Carolina Batista, autora do livro reportagem “Brotas, O Primeiro Quilombo Urbano do Brasil” (2008).

Foto 1. Salão de exposição da Fazenda Roseira. Fonte: Tirada pelas integrantes do grupo.

Para a surpresa de grande parte dos alunos presentes ela também comentou a respeito de um quilombo existente em Campinas, Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares”, conhecido por poucos apenas como Casa de Cultura Fazenda Roseira localizado às margens da maior avenida da cidade (Avenida John Boyd Dunlop), no distrito noroeste (Região Campo Grande) em meio a formas tão urbanas como avenidas, condomínios, shoppings, hospitais, entre outros.

A partir daí tivemos a certeza que o produto final dessa disciplina teria relação com essa casa pela rica diversidade de discussões a serem abordadas e a correlação com a temática que norteava o desenvolvimento da disciplina, a construção de aspectos constitutivos da nação brasileira a partir da decolonialidade. Dessa forma foram realizadas entrevistas filmadas com perguntas direcionadas para que os participantes que aparecem no documentário tratassem dos assunto que nos interessava discutir.

Afinal, a Fazenda Roseira guarda em sua arquitetura a sede do que já fora uma grande fazenda de cultura cafeeira, mas que posteriormente ao fim do ciclo econômico fora alvo de abandono e degradação por décadas, enquanto sua localização a tornava objeto de interesse e perversa especulação imobiliária.

Foto 2. Casarão da Fazenda Roseira. Fonte: Tirada pelas integrantes do grupo.

Após muita luta e um longo processo de ocupação, preservação e cuidado, o local teve o terreno cedido pela Prefeitura Municipal de Campinas como Equipamento Público Comunitário, sob posse da comunidade do Jongo Dito Ribeiro que tem como liderança Alessandra Ribeiro (nossa primeira entrevistada).

Logo após essa liberação se iniciou a construção de um loteamento predial (em 24 de agosto de 2007) que trouxe novos conflitos, seja por preconceito ou ignorância dos novos moradores que não entendem o que é essa casa de cultura e por isso não reconhecem a importância de sua permanência e preservação, bem como a rica prática de jongo que é considerado um patrimônio cultural.

Foto 3. Prédios atrás do casarão da Roseira. Fonte: Tirada pelas integrantes do grupo.

Dentre tantos casarões de barões de café de Campinas cuja foi considerada a “cidade castigo” para os negros que fugiam e a última a abolir a escravidão, a Fazenda Roseira parece ser um dos poucos espaços destinados a preservação de cultura negra, um território ressignificado de forma distinta de propostas mais recorrentes que romantizam a escravidão.

Foto 4. Salão demonstrando as antigas estruturas e fundação . Fonte: Tirada pelas integrantes do grupo.

Dentre esse contexto, o audiovisual buscou portanto discutir essas questões citadas acima encaixando elas entre as falas dos entrevistados, buscando mostrar a Fazenda, a prática de jongo, suas histórias, importâncias e conflitos atuais.

Além disso o filme foi feito buscando trazer uma visão decolonial, ou seja fizemos um audiovisual que foi estudado e construído com as pessoas da comunidade local, as tornando donas e narradoras tanto de suas histórias quanto do local e do nosso vídeo.

Nessa tentativa de um pensar decolonial, conhecer e se aprofundar na realidade de espaços de resistência como a Casa de Cultura Fazenda Roseira torna-se de extrema importância, visto que o colonialismo afetou não somente o presente e o futuro dos “colonizados” mas também a memória do passado destes também, distorcendo, desconfigurando e aniquilando as suas raízes.

Afinal o colonialismo foi também um discurso de inferiorização que retirou dos colonizados suas referências culturais deixando consequências sentidas até os dias atuais na sociedade brasileira, portanto entendemos e buscamos retratar a Fazenda Roseira e o Jongo como formas de resistência, memória e um direito, preservação e resgate da cultura negra e da cosmovisão africana, um ambiente que estimula uma nova forma de pensar que não a hegemônica e eurocêntrica.

Foto 5. Integrante da Comunidade do Jongo tocando tambor. Fonte: Tirada pelas integrantes do grupo.

Portanto diante de tantos elementos conflituosos junto a aparente intenção de invisibilização da Roseira e sua significância, buscamos fazer esse vídeos também para auxiliar na luta, compreensão, divulgação e exposição desse Quilombo Urbano.

Vale ressaltar que, o trabalho final apresentado abaixo no formato de audiovisual somente foi possível devido a participação dos entrevistados, entre eles: Alessandra Ribeiro, que é a liderança da Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Coordenadora Geral da Casa de Cultura Fazenda Roseira; Lucas Cesar Rodrigues da Silva, Coordenador do projeto Ossaim Nossas Ervas que curam e integrante da comunidade Jongo Dito Ribeiro; A pedagoga e educadora social Vanessa Dias, integrante e coordenadora da comunidade Jongo Dito Ribeiro; e Nilvanda Sena Rodrigues, teatróloga e folclorista Griot de singular importância no cenário artístico e humano da cidade de Campinas, sendo que esteve presente no ato da ocupação da Fazenda Roseira revezando nas vigílias com as demais ativistas e membros da comunidade.

Confira o vídeo completo FAZENDA ROSEIRA – CULTURA E RESISTÊNCIA

Produção de 2017/2018

Equipe: Aline Jane Oliveira Campos; Marisol Emma Frankland Sawaya; Vanessa Juliana da Silva.

Duração: 00:22:27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RESTREPO, Eduardo; ROJAS, Axel A. Elaboraciones clásicas sobre el colonialismo en América Latina y el Caribe. In: Inflexion decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Editorial Universidad del Cauca, 2010

SANTOS, Milton. O retorno do Território. In: OSAL: Observatorio Social de América Latina. Ano 6 no. 16 (Jan. – Abr. 2005). Buenos Aires: CLACSO. ISSN 1515-3282. (pp. 253 – 255).

Disp. em:http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16Santos.pdf

STARLING, Heloisa M. M.; SCHWARCZ, Lilia M. Toma lá dá cá: o sistema escravocrata e a naturalização da violência. In: Brasil: uma biografia. Companhia das Letras, 2015. (p.96).

 

Mais referências abaixo nas apresentações das aulas sobre o tema.

quilombos

sistema-escravocrata